Thursday, March 12, 2009

Entrevista com Zilá Arruda Agriel

Cia do Coaching - Zilá, como você gostaria de ser apresentada nesta entrevista que será postada no blog Companhia do Coaching?

Como Consultora pela Z Consultoria e com outras consultorias com quem tenho parcerias e como Coach no Desenvolvimento das Pessoas em Organizações.

Cia do Coaching - Para iniciarmos esta entrevista, você havia manifestado suas preocupações com o ponto de vista do cliente. Minha primeira pergunta é se você entende que há algum mito sobre o processo de Coaching?

Acho que mais desinformação do que mito. Existe ainda pouca divulgação, junto com alguma confusão entre Coaching e Terapia. O processo de coaching em si não deixa de ser terapêutico no sentido de propiciar reflexões, insights, “repaginações”, etc, etc. Como diz Leonardo Wolk, “manter as brasas acessas”, apoiar mudanças, tomadas de decisão, isso é tremendamente terapêutico no meu modo de pensar; é através da escuta ativa e da boa capacidade de fazer perguntas precisas por parte do coach, que o coachee ou cliente coloca foco, luz, organização, estrutura... no entendimento de questões que podem estar atrapalhando o desenvolvimento e/ou dificultando um novo ou um outro passo. Tem duração curta, de 8 a 12 sessões, e uma das grandes diferenças da terapia é que não se propõe a aprofundar o entendimento das questões para tratá-las ou chegar no seu cerne Afinal segundo o Aurélio, terapêutico é tudo que possa aliviar ou curar algum tipo de mal. Estou segura que quem faz bem feito, faz isso.

Cia do Coaching - O Coaching ainda é recente no Brasil, grandes empresas empregam este recurso para as lideranças, como você enxerga este futuro do Coaching?

Vejo como uma opção de desenvolvimento bastante focada e ´taylor made´, o que propicia além de amplitude, velocidade e precisão nos processos de desenvolvimento e uma conexão entre o profissional e seu contexto profissional, familiar, de relacionamentos etc...com ganhos individuais como de pequenos grupos, é o “ganha ganha” de pessoas com pessoas e pessoas com organizações.

Cia do Coaching - Voltando a questão das empresas, e agora pensando nas pequenas empresas para as quais talvez nem haja um programa de desenvolvimento para as lideranças: Você vê algum movimento para que essas empresas também possam usufruir dos benefícios do Coaching?

Não sei se um movimento propriamente dito, mas possibilidades: disseminar cada vez mais o “coaching em equipe” ou “learning group” como você prefere chamar. Outra opção seria a organização de grupos de líderes dessas empresas que possam usufruir de atendimentos dos coach supervisionados no decorrer da formação de novos coaches. O processo é poderoso demais no sentido de provocar novos patamares de consciência e trazer benefícios tanto pessoais como organizacionais, para ficar de fora quem quer que seja.

Cia do Coaching - Você enxerga alguma possibilidade para que as pequenas empresas possam também usufruir do Coaching a um custo mais acessível?

Acho que iniciei este assunto um pouco acima com relação a aplicação do coaching de equipes, o que tem um custo, treinamento um outro, e sessões individuais outro custo. Entendo que os coaches devem cada vez mais provocar a divulgação tanto do conceito como do processo e também do custo apropriado, veja um exemplo: um treinamento de 2 dias para 20 participantes, tem um custo alto para a empresa, contando com a logística de sala, equipamentos, custo do consultor e hospedagem, sendo que a abordagem acaba sendo mais abrangente, isto é, não é direcionado para cada indivíduo e depende também da continuidade que o gestor dará para que o processo de desenvolvimento aconteça. O custo de treinamento tem essa composição porque engloba muitas variáveis. O custo de um processo de 10 sessões de coaching pode ficar num patamar que proporcione maior interação e aproveitamento individual, além de maior possibilidade de “autonomia” e do “empowerment” do cliente, que chamamos de performer (porque é ele quem performará!) no desenrolar de seu processo de desenvolvimento, uma vez que um dos “sub produtos” essenciais no processo é a possibilidade de se acessar e ampliar o auto conhecimento. Enfim, ter uma consciência de suas reais possibilidades.
Sem pensar se são grandes ou pequenas empresas, entendo que tenham que pesar se querem atingir um público abrangente com os treinamentos, ou coaching como desenvolvimento individual ou de suas equipes.

Cia do Coaching - Existem muitos profissionais que ainda nem sabem o que é Coaching? como atingir esse público fora dos programas das empresas?

Cabe a nós coaches provocar uma “ola” através de oficinas, palestras, workshops para sensibilizar e dar informação. Percebo que o assunto tem tido destaque e divulgação. Veja que o Instituto EcoSocial fez a primeira Conferência de Coaching em 2008, e tem iniciado 3 turmas de formação por ano, ainda em junho teremos aqui em São Paulo um Simpósio Internacional de Coaching, tem o ICI com programa de formação e vem chegando a certificação internacional. Acho que o crescimento da divulgação e da demanda tem sido forte nos últimos 5 anos e deverá crescer ainda mais nos próximos.

Cia do Coaching - As grandes empresas são atendidas por empresas especializadas em Coaching já estabelecidas no mercado. Há espaço para outras empresas coexistirem? existe um diferencial que você queira destacar?

Como na experiência em Consultoria em DO que tenho, não vejo um cenário que seja diferente. Sempre existiram as grandes consultorias com espaço bem grande desse bolo com relação a ações de T & D no mercado, no entanto, consultores independentes ou pequenas consultorias conseguiram sempre sua fatia desde que apresentassem qualidade, competência e soluções “sob medida”, com a “cara” e a “linguagem” de cada negócio ou empresa. Acredito que não é diferente com relação ao trabalho de coaching, serão os mesmos quesitos que darão destaque ao bom profissional, além de uma capacidade forte de acolhimento, respeito e entendimento das diferenças.

Cia do Coaching - Existem algumas (ou muitas) empresas formadoras de coaches. Existe espaço para todos? como os Coaches estão ´making money'? algum conselho ou convicção que queira declarar sobre como diferenciar-se?

Acho que falei disso acima, mas também tenho clara a convicção que para mim essa opção atende meus anseios de vocação, missão; aquele bico da pirâmide do Maslow, algo de auto realização, uma resposta a pergunta: o que eu vim fazer por aqui? o que pode me distinguir como ser humano?

Cia do Coaching - Falando do cliente mais especificamente, existem questões comuns, que têm aparecido com constância? uma preocupação comum, mais geral?

Estou entendendo que você está chamando de “questões comuns” os objetivos pelos quais o coaching é requerido, certo? e quando você fala do cliente, é preciso distinguir 2 possibilidades a saber:
O Cliente PJ – a empresa que te contrata para atender o coachee ou performer, geralmente a expectativa dela é acelerar processos de desenvolvimento, adequar competências dos indivíduos à posições que exijam maior e melhor gestão de pessoas, ampliar visão sistêmica, ganhar mais maturidade, calibrar a tensão criativa etc.
O Cliente PF – é a pessoa que te contrata para focar uma determinada questão sua de carreira ou de desenvolvimento pessoal (life coach) ou profissional, etc. Nesse caso ele é o cliente e é o performer.
Esses objetivos é que se desmembrarão em questões. Há também casos em que objetivos se desdobram em várias questões que podem estar impactando no todo. Nesses casos, será decisão do performer escolher qual ou quais questões ele priorizar no decorrer do processo. É comum também quando as questões se modificam, recontratar um novo processo.

Cia do Coaching - Como o cliente manifesta o atingimento das suas metas? você contrata previamente estas métricas?

O cliente PJ, geralmente pelo atingimento de resultados quantitativos e alguns qualitativos, por exemplo, o performer que faz o processo querendo evoluir em sua atuação como gestor de equipes, é levado em consideração melhores resultados em pesquisas de clima ou em feedbacks de pares/superiores com relação a mudanças nos relacionamentos interpessoais. Outra boa medida é quando o performer foi promovido para uma posição que requeira, por exemplo, maior maturidade e passa a responder mais precisa e prontamente, a esses quesitos contidos nos desafios dessa nova posição, já no decorrer do processo de coaching. Os indicadores são importantíssimos e faz parte da agenda das sessões divulgar e equalizar segundo a visão da empresa, e também criar outros de acordo com a percepção e agenda do performer.
As manifestações de atingimento são as mais diversas, porém faz parte do processo provocar o performer a relatar no final de cada sessão suas impressões, ter uma avaliação mais formal na penúltima sessão e ter a última sessão já considerada de manutenção, onde serão avaliados os itens do plano de ação e se necessário se criará um plano de sustentação para ele.
Já o cliente PJ manifesta o atingimento das metas do processo dando continuidade a relação com você e te indicando para outros clientes.

Cia do Coaching - Quais têm sido as angústias, se é que é esta a palavra, mais manifestadas? a que estão relacionadas?

Tenho tentado fazer algumas perguntas com o olhar do performer e pensar quais seriam seus grandes dilemas, muito com a intenção de ´a priori ´ conhecer e poder antever algumas soluções ou encaminhamentos mais adequados.
Ai vão algumas delas:
- Como transformar tantas inquietações e dúvidas internas numa boa questão passível de ser apresentada e focada num processo de coaching?
- Como e quais indicadores poderão mostrar para o performer a evolução no processo?
- Como estabelecer confiança na relação com o coach e também no processo, uma vez que quem arcará com o investimento será a empresa e muitas vezes as empresas não comunicam adequadamente suas intenções de desenvolvimento para com seus funcionários.
Uma outra questão mais delicada é o posicionamento do performer em não querer passar pelo processo de coaching e temer declarar essa decisão.
Enfim, estou em plena pesquisa e desejando ter boas interlocuções que possam ampliar esse “brainstorming” para que seja possível fazer uma boa reflexão que sirva de “ensaio” prévio tanto para coaches como para as pessoas que futuramente possam se tornar performers. Estou bastante interessada em ouvir os colegas para ampliar esse “pensar” para poder manter essa “brasa acessa”.

Cia do Coaching - Zilá, espero que estas ricas contribuições possam provocar reflexões nos leitores e que ainda existam muitas questões a comentar: reflexos da crise internacional que já chegou por aqui, mais confusões de Coaching com terapia e com PNL, cooperativa de pequenas empresas para demandas coletivas e por aí vai. Que venham os comentários!
O blog Companhia do Coaching, agradece a entrevista.


Obrigada pela participação e beijocas a você.

7 comments:

Anonymous said...

Zilá, algumas questões abertas que você ainda possa contribuir: Estamos no meio de uma baita crise internacional que respinga... ou vai chover... no Brasil, não posso afirmar categoricamente que "estamos again, numa época de vacas magras", mas, na sua opinião e sua experiência,
1) o que poderá acontecer com os programas de desenvolvimento de líderes, para os quais o processo de Coaching é, na minha opinião, essencial?
2) Um "passarinho me contou" que já tem coaches adequando pacotes de preços... and so Zilá?
3) Fiquei com tanta curiosidade sobre as questões mais angustiantes manifestadas... and so Zilá?
:-( é a crise? o cara tá doidão porque investiu tudo na bolsa?
:-| é a empregabilidade?
:-| são as questões para dar uma ´segurada´ no emprego?
;-:) são as questões de um plano B?
é uma indecisão na questão? e se tiver dicas, por favor, manda aí!
:-)) é a questão do ´vou empreender´?
por enquanto é isso... mas vc me provocou uma curiosidade e tanto :-)
Curioso anônimo

Claudio Pavanini said...

Bom dia Zilá
Os coachees que tenho atendido têm com questão a carreira (uma virada, um plano B, uma ascensão mais preparada na empresa, um estágio com objetivo de efetivação e em Coaching de Grupo a questão da Colaboração Intra e Inter equipes, e aí, normalmente, entram questões como Comunicação e como sub item o Feedback, Integração, Gestão do Tempo e de Riscos. Beijos

Claudio Pavanini said...

Zilá, esqueci da outra pergunta, então aí vai:
Você declarou que "...mais delicada é o posicionamento do performer em não querer passar pelo processo de coaching e temer declarar essa decisão."
Entendo que muitos coaches devem ter passado por esta situação. Penso também que é esta a hora do Coach performar, isto é, mostrar os benefícios que o processo poderá potencializar, relembrar a questão da confidencialidade, de forma a diminuir ou eliminar o receio do coachee. Bjs

Zilá said...

Como devo chamá-lo de curioso anônimo ou anônimo curioso?
Bem, vamos lá às reflexões de suas perguntas:
1- Em momentos como o do atual cenário, acho super importante as empresas que querem permanecer performando, cuidar muito bem de seus talentos, não só para retê-los, como para mobilizá-los num momento onde não será tão simples o engajamento geral.
2- um outro passarinho me contou a mesma coisa...
3- tenho tido um número de performers interessados em desenvolvimento pessoal/profissional e outro em evoluir como "lider coach".
e você qual a sua questão, agora eu é que estou curiosa (rs,rs)
abraço
Zilá

Zilá said...

Pava, concordo que tem uma "transpiração" nossa em mostrar ao performer os benefícios, etc,etc; porém, penso que isso não elimina os riscos de um processo que não foi bem iniciado, ainda no âmbito da empresa, com boa dose de comunicação bem feita e transparência na relação entre ele e seu gestor imediato. Quanto melhor forem esses itens, maior o nível de confiança do performer no processo, penso que isso é "lição de casa" nossa, do gestor e do RH.Bjks

Claudio Pavanini said...

Zilá, você foi craque na resposta desta questão. Acho que quando há uma resistência do performer na aceitação do processo de coaching, tem sim a questão da comunicação e da transparência com o gestor. Gostei da ´transpiração´ dos coaches para mostrar os benefícios do processo.

Anonymous said...

Zilá, mandou bem mas pulou o trem do plano B. Pô ´sangue bom´, tô vendo que pulou tbem o empreendedor.
Minha questão é a curiosidade d e m a s i a d a, também sou muito palpiteiro e já paguei muito mico.
Anônimo Curioso. Gostei mais. Valeu!