Saturday, September 4, 2010

Coaching em grupo: projetos combinando sessões em grupo e coaching individual são mais acessíveis financeiramente e maximizam os resultados.

Patricia Bueno - Coach

A demanda que recebi não era de um trabalho de coaching. O desafio da Diretoria da empresa cliente, na visão de seus principais sócios, era desenvolver um novo comportamento. O mercado estava mais competitivo e eles precisavam crescer. Para isso, a Diretoria precisava ser mais proativa e demonstrar maior senso de oportunidade, posicionando-se com mais agressividade comercial junto aos atuais e potenciais clientes.

“Precisamos de um treinamento sobre Proatividade”, disse um dos principais executivos da empresa que também era acionista. Talvez o pedido não chegasse assim se viesse de RH, mas foi assim que aquele empresário o expressou.

Conversamos com os demais sócios para aprofundar o entendimento sobre a situação. O diagnóstico não estava muito claro, cada sócio tinha uma opinião particular sobre a cultura de trabalho, os processos que contribuíam ou dificultavam a tal proatividade, o perfil da Diretoria, mas havia certo consenso em relação à demanda:

“Os Diretores precisam se mexer mais, não dá mais para a gente ficar esperando os clientes baterem a nossa porta. A gente fala, fala, mas nada acontece.”

A Diretoria era composta de profissionais bem formados, um misto de gente muito experiente no setor, com bastante tempo de casa, e outros mais jovens, porém talentosos.

A proposta de trabalho que apresentamos não era de um curso sobre proatividade, não havia um conteúdo específico, técnicas ou conceitos a serem apresentados. O trabalho se resumia a uma série de reuniões quinzenais de 2,5 horas com todo grupo e algumas reunioes individuais com os Diretores ao longo de um período de 6 meses.

Mas o que especificamente vocês vão fazer com eles?” Perguntou o sócio-presidente.

 A resposta seria simples, apenas conversar, mas foram necessárias duas reuniões para conversarmos com os patrocinadores do processo sobre “como” seria este conversar.

A conversa aconteceu e o projeto foi aprovado. Firmamos então o compromisso de promover um espaço seguro para a reflexão sobre as questões desafiadoras identificadas pelos sócios: maior proatividade, senso de oportunidade para gerar negócios, desejo de crescimento da empresa, competitividade crescente no mercado. Espaço seguro de reflexão implica em acordo irrestrito de confidencialidade e neutralidade por parte do coach.  

O que aquele grupo entendia quando era cobrado por maior proatividade? Como compreendiam os diversos sinais da empresa? O que pensavam sobre seu papel? Quais das exigências verbalizadas estavam em sintonia com suas aspirações? O que poderiam construir juntos, sem esforço, aproveitando o fluxo da própria motivação?

Vender um projeto de coaching em grupo é sempre um desafio, pois é natural que o cliente espere algum tipo de garantia que a “medicação” a ser ministrada, elimine o sintoma indesejável. O nível de investimento é alto e ainda há muita dificuldade em mensurar resultados. Avaliar o resultado de processos de coaching em grupo também não é tarefa fácil, mas podemos partir de indicadores estabelecidos pelo próprio grupo alinhados aos anseios dos patrocinadores, o que favorece o compromisso e acompanhamento dos resultados.

Minha experiência com coaching de executivos me permitiu observar que, muitas vezes, o que falta não é a técnica ou a habilidade. O cotidiano, isto é, a rotina de trabalho no mundo corporativo é pesada e acaba restringindo o tempo para reflexão. Sem o espaço para reflexão, não surge a possibilidade para o “dar-se conta” sobre o que está funcionando e o que precisa ser melhorado, dificultando a ação criativa e o exercício da própria aprendizagem.

O Coaching em grupo é um processo de desenvolvimento que estimula aprendizagem coletiva através deste espaço de reflexão: a reflexão em grupo acelera o processo de desenvolvimento individual e aquele participante que individualmente dá o primeiro salto, também contribui para a evolução do grupo.

Obter bons resultados com grupos também depende da sensibilidade e flexibilidade do facilitador. É importante que o coach de grupos planeje suas sessões e tenha uma proposta de trabalho alinhada ao momento do grupo e objetivos, mas nunca pode ficar preso a esta agenda. O trabalho do coach é seguir o movimento o grupo: o coach vai desenhando o processo à medida que o grupo avança:

  •   propõe estímulos à reflexão de maneira leve e criativa,

  • distingue e evidencia outras questões que emergem mantendo o foco do trabalho,

 busca o envolvimento de todos equilibrando as oportunidades para a contribuição dos participantes,
  • apóia o compartilhamento de experiências e idéias, conectando-as quando possível

sempre incentiva a experimentação e, quando apropriado, a criação de projetos conjuntos.

O trabalho em grupo possibilita ao coach uma visão sistêmica, permite a percepção das dinâmicas defensivas do próprio grupo. A dinâmica de relações se reproduzem nas sessões em grupo, favorecendo que os participantes percebam como atuam para reforçar o que não gostam, os impactos de suas ações e não ações, como influenciam o entorno, suas equipes, lideres, clientes e parceiros.

Mas como nem todas as questões emergem em trabalhos em grupo, é importante também que haja algum outro espaço para um apoio individual. Por esta razão, a combinação de sessões em grupo com sessões individuais tem sido recomendada. Em projetos desta natureza, o foco das sessões individuais deve estar, no entanto, sempre ligado aos temais centrais do coaching em grupo.

Voltando ao caso do cliente que buscava maior proatividade, o resultado alcançado surpreendeu a todos: os Diretores tornaram-se mais confiantes, o grupo passou a se articular melhor, ficaram mais atentos às oportunidades de mercado, mais convincentes ao propor novas abordagens e projetos, os negócios começaram a crescer, as metas foram superadas, acionistas e colaboradores ganharam maiores rendimentos, um Diretor, inclusive, deu-se conta de seu enorme potencial para buscar novos negócios e foi proativo: tomou a decisão de montar seu próprio negócio!